terça-feira, 9 de novembro de 2010

Denso. Agressivo. Real.


   Sobre o documentário "Nós que aqui estamos por vós esperamos", seria muito pedantismo endossar uma reflexão desencadeada por meio de um documentário tão denso, em breves palavras. A tentativa vem a seguir.
   Aqueles sons, imagens e falas, deveras agressivos, nuances reais, de pessoas reais, que sem ao menos dar-se conta, por um sórdido instante, tornam-se protagonistas, fazem-se donos de ações, que juntas, em linha de produção, geram a força de trabalho que movimentam catástrofes. Sejam estas pessoais ou alheias.
   Um século "organizado" sob instantes, pontuados pela morte, seja esta, por conta de uma discordância partidária, um muro, que erguido por duas mãos, é saltado por dois pés, que coincidentemente compunham o mesmo corpo, quem tem culpa por nascer negro, judeu, ou mulher?
   O matrimônio que gera bombas... desde o "período gestacional", até o cumprimento da ação a que foi destinada. Tal substantivo feminino impele-nos a questão de gênero, que ignorado em tal atividade, por um breve instante, soa como um estímulo velado aqueles corpos femininos, que clamam com força bélica em essência, por libertação, esta atitudinal, com vestes transgressoras despidas por ações, que ao final do expediente, ninavam cada qual sua depressão, em forma de vida real.
   E segue o convite: Senta na cadeira elétrica, tome uma aspirina, observe os bens adquiridos, reflita religiosamente sobre as diferenças, hoje seu travesseiro é de ninguém, e o filho segue a espera, e nós que aqui estamos vazios por vós esperamos.


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sobre a "teoria da curvatura da Vara"

   Por meio da obra intitulada “Escola e Democracia”, esta já em sua quadragésima edição, traduzida para o espanhol e referida como um clássico do pensamento pedagógico latino-americano, Dermeval Saviani nos impele a reflexão acerca da política educacional. É no desvelar do capítulo segundo denominado “A teoria da curvatura da Vara” que segue o exercício da criticidade, regido por três teses políticas que vem como subsídio a fim de melhor “instrumentalizar-nos”, para o apêndice que as segue, este sim apontando a referencia emprestada de Lênin, que a enunciou segundo Althusser (1977, PP.136-138).

   O autor ao munir-se da teoria, contextualizando-a como metáfora, busca inquietar o leitor, conduzindo-o ao desequilíbrio das “certezas” ditadas pelo senso comum. Tais certezas conduzem à dicotomia entre ação e reflexão, ofertando produtos interpretativos superficiais oriundos da recomposição hegemônica, que por sua vez compõe o cenário de um sistema que por si, supostamente justificaria a não “ação pedagógica de cunho político”.

   Todavia segue a “Flexibilização da Educação”, esta sim historicamente construída por meio de uma cultura reprodutivista, na qual os educadores que fomentariam seus orientandos à prática social, ironicamente compõem a “massa de manobra” não se compreendem dominados, logo, mantém-se na zona de conforto, quando deveriam estar à frente travando a zona de confronto , na qual sua práxis se efetivaria no questionamento.

   Se nos revelam teses polêmicas que cuidadosamente explanam sobre a Escola Tradicional, revolucionária, de caráter científico, de essência, esta não “portadora de todos os defeitos e nenhuma virtude”, como também a Escola Nova que ao demonstrar-se reacionária, pseudo-científica e antidemocrática, não detém” todas as virtudes”. Fica posto que o devir epistemológico esta para a reflexão, assim compondo uma ferramenta a favor do questionamento, este inerente ao processo de transição, que ao estabelecer-se nos conduz ao aprimoramento, ou a subordinação?


domingo, 17 de outubro de 2010

"A Infância e a educação em Platão" segue em 2010?

   No decorrer do artigo intitulado “Infância e educação em Platão”, o autor Walter Omar Kohan, em movimento de reflexão, organiza em sua produção o entendimento de Platão, acerca da infância, desvelado em quatro planos que dialogam entre si. Abordada a face “infância como material da política”, pautando-se nas obras Alcebíades, Górgias, República, e nas Leis, o artigo orienta neste momento a política como premissa representativa inerente as relações ocorridas entre educação, filosofia e infância.

   Afim de melhor compreender tal construção, é de estrutural importância o movimento de busca à etimologia de infância, salvaguardados os diversos conceitos e desdobramentos advindos da referida palavra. “Em latim existe infantia, mais é bastante tardio e designa literalmente a ausência de fala”, “... a palavra infantes também passa a designar a muitas outras classes de marginais que não participam da vida pública...”.

   Tais citações remetem a reflexos atuais que são designados como consequência, visto que a educação é historicamente concebida e influenciada por diversas correntes ideológicas, que por sua vez compõem etapas epistemológicas acerca de tendências, hora hegemônicas, frutos de desdobramentos orientados por fatores históricos, políticos e culturais, que demonstram contextos adequados ou não a cada época. Fica posto que, o “currículo”, neste interpretado como a seleção de “conteúdos”, orientações e obras que irão influenciar na formação deste “ em potencial” gestor, evidenciam a origem da educação bancária, se me permite a referência ao termo, o condicionamento, estruturalmente conteudista, hoje atribuída a sociedade do conhecimento, esta imediatista e instrumental.

   Esta construção histórica, todavia foca uma sociedade classicista, na qual, alguns são formados, outros se subordinam, aos tiranos dos velhos e novos mundos, que aprimoram suas estratégias pautadas na alienação, projetando-nos a um lugar social em que se opera a manutenção do poder.

   Sobre a infância... , tabula rasa, repleta de vazio, intervalo de tempo entre o nascer e o devir. Instante em que se de (forma) o caráter de um alguém, este já privilegiado em suas potencialidades, forjado a serviço da política, de um ideal infante, que a alguém pertence, defensor dos interesses alheios, habitantes da Polis de ninguém.